quarta-feira, 8 de julho de 2009

Os bilhetes para o Circo

Estava eu tranquilamente a tomar um café quando fui abordado por um catraio que me queria vender bilhetes para o jantar do PSD, melhor dizendo, para o jantar de apresentação da candidatura do Dr. Rui Rocha, no dia qualquer coisa de Junho!
Fiquei surpreendido com estas novas formas de congregar pessoas para apoiar candidatos ao poder local.
Antes os apoiantes congregavam-se livremente, por sua espontânea vontade, por empatia ou simpatia com o candidato, ou candidatos. Porque se reviam nas suas ideias, nas suas condutas, nos seus ideais. E fazia-se o comício a ar livre, no meio do pó da rua, em recinto aberto para que outros viessem escutar também…
Agora, vai-se de porta em porta, de mão estendida a pedir em voz murmurante, «Um bilhete de 5,00, para o jantar do PSD, por favor!» Como quem esmola!
Esmola-se o apoio. Esmola-se o voto. Como se de um circo pobre se tratasse, onde as feras esfomeadas esperam o momento magnífico da actuação e depois das luzes apagadas cogitam na incerteza do estômago satisfeito!
«Vai um bilhete para o jantar do Dr Rui Rocha! São só 5.00!» - tentava convencer o rapaz os que por ali paravam.
Indaguei. «Então onde é o jantar?»
«É no Centro de Negócios.» respondeu prontamente o jovem.
Percebi! O espaço era simbólico. Ia fazer-se um negócio. Uns davam o circo e o pão, em recinto fechado, como se de uma arena se tratasse. Outros aproveitavam o jantar subsidiado para ver a festa, saindo da penumbra das suas cozinhas solitárias para um cenário com tonalidades de revista cor-de-rosa. Iam ser fotografados, ser vistos e ver, sacudir as palmas carecidas de emoções reais e verdadeiras. Mas lá estavam. A olharem-se. Traindo secretamente aquela pretensa união no íntimo do seu pensamento com a certeza de nunca serem apanhados!
«Vai um bilhete para o jantar do Dr. Rui Rocha! São só 5.00!»
Abandonei a mesa de café onde fui assediado por uma motivação política. Livrei-me da voz insistente do tonto do rapaz! E não pude deixar de sentir asco pelo o provincianismo pós-moderno da política portuguesa, tão agarrada ao marketing, ao marcador de pontos, que, na sede da vitória a todo o custo desce à esmola, à pedinchice, ao abalroamento do cidadão no seu trajecto pacato do quotidiano, para encher com número gordo um evento que esmague a oposição e deixe de boca aberta o saloio, com o poder e a majestade das massas, levando-o a convencer-se «É neste que vou votar»!
Senhoras e senhores o circo vai começar!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Faça aqui a sua reflexão.